Uma nova pesquisa eleitoral: erro ou um feio retrato do povo brasileiro
Abro um aplicativo de revistas que tenho direito por ser assinante de minha operadora e leio, logo de cara, uma matéria da Revista Veja que analisa e comenta uma pesquisa eleitoral para 2022 da Veja\FSB (pode ser encontrada também aqui: https://veja.abril.com.br/politica/pesquisa-veja-lula-bolsonaro-2022/) que apresenta os seguintes dados:
. Lula perde de 46% a 38% para Bolsonaro;
. Haddad perde de Bolsonaro de 47% a 34%;
. Bolsonaro venceria Huck por 43% a 39%;
. Moro bate Bolsonaro por 38% a 34%;
. João Doria teria, no máximo, 5% e, se chegasse no segundo turno, perderia de 46% a 26% para Bolsonaro;
. Ciro Gomes teria, no melhor cenário, 11% no primeiro turno;
. Moro venceria Lula por 50% a 37%;
. Moro bateria Huck por 49% a 32%
. Haddad perderia para Moro por 49% a 31%.
A matéria da Veja começa criticando fortemente Lula e faz várias referências à sua prisão. De forma tendenciosa, afirma que o melhor para Bolsonaro, num segundo turno, seria enfrentar o PT, especialmente se Lula não for o candidato.
Deixando a análise da revista de lado, não consigo acreditar no que diz a pesquisa. Em outro artigo, escrito aqui no Medium, analisei uma pesquisa do Datafolha, divulgada em 02 de setembro de 2019 que afirma que Haddad venceria Bolsonaro por 42% a 36% (https://www1.folha.uol.com.br/poder/2019/09/se-eleicao-fosse-hoje-haddad-venceria-bolsonaro-por-42-a-36-indica-datafolha.shtml). Praticamente um mês e meio depois, a Revista Veja publica essa mudança radical e pouco compreensível. Pouco compreensível porque Bolsonaro e Moro vem sofrendo um desgaste de suas imagens em função da Vaza Jato e do desgoverno por parte de Bolsonaro. Além disso, todas as pesquisas anteriores demonstram que Bolsonaro vem perdendo popularidade e Lula, em função das demonstrações, pelo The Intercept Brasil (https://theintercept.com/brasil/), da injustiça de seu julgamento, além do grande apoio internacional que possui, vem renovando sua imagem e aumentando sua popularidade.
Em função de tudo que foi dito, há duas alternativas para entender os resultados dessa pesquisa.
A primeira diz respeito à veracidade da pesquisa. A pesquisa não corresponderia à realidade brasileira, está errada. O erro em questão poderia ter várias causas, não vou citá-las aqui. Entretanto, é bom salientar que ela entra em discordância com a grande maioria das pesquisas até aqui, indicando uma falha da pesquisa ou, caso seja verdadeira, uma nova tendência.
A segunda alternativa ´´é que a pesquisa está correta, sendo Bolsonaro e Moro os nomes mais fortes para a corrida presidencial de 2022. Estando correta essa alternativa, demonstraria a alienação e falta de consciência da maior parte do povo brasileiro, além de uma tendência que vai muito além do conservadorismo. Estaríamos num país em que o povo pede, consciente ou inconscientemente, para ser explorado.
Não haveria, caso a pesquisa esteja certa e essa tendência se mantenha, como culpar a mídia tradicional por praticamente todo engano do povo. Eu sei que essa mídia, juntamente com religiosos promíscuos e redes sociais manipuladas, tem muita responsabilidade pela eleição de Bolsonaro. Entretanto, não há como negar que a maior parte da população já sabe que só os mais ricos lucraram com a crise brasileira, que vai trabalhar até não poder mais em função da reforma da previdência, que nada está sendo feito para recuperar as vagas perdidas de emprego, que a educação vai mal, a saúde nem se fala, enfim, que o país está um caos por causa desse governo. Essa mesma população também sabe que Moro foi um juiz parcial e que subverteu todo sistema legal com interesses políticos e pessoais e que a Lava Jato destruiu o país para conseguir atingir os objetivos de Moro e Deltan.
Olho para Inglaterra, Equador, França, Chile, Argentina e vejo povos que têm um limite e lutam quando esse limite é ultrapassado, dando uma resposta nas urnas ou protestando para reivindicar seus direitos. Olho para o Brasil e não vejo nada disso. Precisamos mudar esse quadro e espero, para o nosso próprio bem, que essa pesquisa não retrate a realidade.
Alexandre Lessa da Silva