Quem ganha com a crise brasileira e o governo Bolsonaro
Em 2011 temos o início da crise mundial das commodities e a desaceleração da economia chinesa, coincidindo com o início do governo de Dilma Rousseff (PT) no Brasil. Não é preciso lembrar que os principais produtos de exportação brasileiros são commodities. Entre os dez principais produtos de exportação, hoje, só o oitavo e o nono não são commodities, como podemos constatar pela lista abaixo (https://www.fazcomex.com.br/blog/quais-principais-produtos-exportados-brasil/):
1º) soja (13% do total de exportações com receita de US$ 9,51 bilhões);
2º) petróleo (US$ 8,2 bilhões)
3º) minério de ferro (US$ 5,7 bilhões, 7,9%)
4º) carne de frango (2,6%, US$ 1,88 bilhões);
5º) farelo de soja (US$ 1,85 bilhões);
6º) carne de boi ( US$ 1,67 bilhão, 2,3%);
7º) grãos de café (2,2%, US$ 1,56 bilhão);
8º) aviões (US$ 1,29 bilhão, 1,8%);
9º) automóveis (1,7%, US$ 1,24 bilhão);
10º) milho (1,7%, US$ 1,23 bilhão).
Assim, com a China sendo nosso principal parceiro comercial e as commodities nossos principais produtos de exportação, seria natural que uma crise chegasse mais dia, menos dia.
Em meados de 2014, a crise que estamos vivendo teve seu começo. Se pensarmos bem, o Brasil resistiu por um bom tempo através de suas reserva e a estrutura econômica montada no governo Lula (PT) e parte do governo Dilma. Entretanto, a crise chega e a economia brasileira começa a senti-la. Juntamente com ela, acontece uma eleição presidencial, ganha por Dilma (segundo mandato) e não muito bem aceita pelo segundo colocado, Aécio Neves (PSDB).
Aécio, PSDB e boa parte do PMDB (atual MDB) começam a tentar de tudo para enfraquecer Dilma. Outros partidos de direita e grupos partidários, como o Centrão, ajudam a criar e expandir uma crise política. Em 31 de agosto de 2016, o impeachment de Dilma Rousseff acontece. Assume em seu lugar Michel Miguel Elias Temer Lulia, o Michel Temer (PMDB). Está encerrado o golpe contra Dilma, mas não contra o Brasil, já que ele continua sofrendo as consequências até agora.
Michel Temer governa até o final daquele que deveria ser o segundo mandato de Dilma, 2018. Entre escândalos, consegue aprovar, com o apoio da grande mídia e com a promessa de uma vasta criação de empregos, a reforma trabalhista. Esta reforma em nada ajuda a criar empregos e o Brasil continua sua crise.
No final de 2018, Bolsonaro, um deputado federal do baixo clero e de extrema-direita, ganha uma eleição espúria, com seu principal concorrente, Lula, impedido de concorrer por aquele que será seu ministro da Justiça e Segurança Pública. Bolsonaro continua o projeto econômico de Temer e, em seu governo, aprova a reforma da previdência, prometendo as mesmas vantagens econômicas que Temer prometeu. Reforma praticamente aprovada e a crise econômica não dá sinais de melhora. O Brasil prossegue em crise, e agora com um governo de ideologia fascista.
O resultado de tudo que isso (golpe, Temer, Bolsonaro e sua campanha) foi o aumento da desigualdade entre ricos e pobres para níveis nunca antes registrados. (https://www.dw.com/pt-br/desigualdade-entre-ricos-e-pobres-%C3%A9-a-mais-alta-registrada-no-brasil/a-50860552).
Em 2018, os mais ricos (1% da população) viram seus rendimentos crescerem 8,4%. Enquanto isso, os 30% mais pobres tiveram os rendimentos diminuídos em até 3,2%, conforme demonstra o IBGE. Esse mesmo 1% tem um rendimento 33,8 vezes maior que os 50% mais pobres. Em reais, aqueles que pertencem ao 1% da população mais rica têm rendimento médio mensal de 27.744 reais, enquanto os 5% mais pobres de 153 reais. Houve também uma queda na distribuição da Bolsa Família: de 15,9% em 2012 para 13,7% em todo o país.
Os dados do IBGE falam por si só e são incontestáveis. Quem ganhou com a crise, o golpe, Temer e Bolsonaro foram os mais ricos. Quem pagou por tudo isso foram os mais pobres.
Caso ainda exista alguém que não está convencido com esses dados, observem aqueles apresentados pelo Ipea — Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada sobre a inflação (http://www.ipea.gov.br/cartadeconjuntura/index.php/tag/inflacao-por-classe-social/). Nele, o Ipea compara a inflação em fevereiro de 2018 e o mesmo mês de 2019. Só quem tem renda média alta e renda alta que teve um peso menor da inflação em 2019. O restante (renda muito baixa, baixa, média baixa e média) teve um peso maior na inflação em 2019. Apesar da inflação ser maior, nos três últimos meses da pesquisa para as classes mais baixas, principalmente, e para as mais altas, o acumulado do ano demonstra que quanto mais alta é a classe, menor é a inflação.
A conclusão do artigo é, portanto, bastante óbvia. Com achegada da direita de Temer e da extrema-direita de Bolsonaro ao poder, só as classes mais altas sairam ganhando. As classes mais baixas perderam direitos trabalhistas, empregos, reduziram seus salários, ganharam uma inflação maior e terão que trabalhar mais para se aposentar.
Depois disso, se você votou e continua apoiando Bolsonaro, parabéns, você é um gênio.
Alexandre Lessa da Silva
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