Os possíveis motivos do ataque dos Estados Unidos ao Irã
Não irei detalhar, aqui, o ataque dos Estado Unidos que acabou com os assassinatos de Abu Mahdi al-Muhandis, chefe das Forças de Mobilização Popular do Iraque, apoiadas pelo Irã, e do general Qassem Soleimani, segundo homem mais poderoso do Irã e seu chefe militar, apenas irei analisar o problema para demonstrar que a linha de poder traçada pela grande mídia e pelo governo dos EUA não corresponde ao que ocorre.
Em um novo ataque de drones (em 03/01/2020) coordenado pelos EUA, foi atingindo um comboio de médicos, segundo o grupo Forças Populares de Mobilização do Iraque, com um total de seis mortos. Ao que tudo indica, os Estados Unidos permanecem atacando e enviando mais tropas ao local. Isso demonstra que os EUA têm interesse no conflito e, como será demonstrado no texto, isso vai muito além da proteção de seus cidadãos no Oriente Médio.
Pelo que foi divulgado na imprensa tradicional brasileira, os Estados Unidos estariam reagindo, com esses ataques, a uma série de provocações iranianas. Entretanto, quem começou as hostilidades foi o próprio Donald Trump ao romper, unilateralmente e contrário às posições da ONU e de seus aliados europeus, com o Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares. Segundo documentos do governo britânico, Trump rompeu com o Tratado para marcar posição diante do governo anterior, aquele de Barack Obama. Daí em diante, as tensões entre os dois países só aumentaram. Entretanto, ninguém esperava o assassinato de Soleimani, já que isso pode representar, dependendo da interpretação dada pelo Irã, uma declaração de guerra.
Encontrei em muitos páginas de notícia a preocupação com uma Terceira Guerra Mundial, o que é um exagero. Soleimani, com todo respeito, não é um arquiduque Ferdinando. Entretanto, um grande conflito na região poderá desestabilizar todo mercado de petróleo mundial, o que terá efeito em toda economia do planeta, algo indesejável para a grande maioria dos países, em especial para os Estados Unidos e seu presidente. O grande trunfo que Trump ostenta é uma economia estável, com um crescimento muito bom e um índice de desemprego em queda. Para colocar isso em jogo, Trump deve ter um motivo importante que vai além daqueles divulgados pelo Pentágono (sede do Departamento de Defesa dos EUA), já que o ataque que resultou na morte do homem forte das forças armadas iranianas pode se revelar mais um motivo para o impeachment. Isso ocorre em virtude do ataque poder ser considerado um ato de guerra e, por isso, necessitaria de uma autorização do Congresso, que não existiu.
Obviamente, vários países aliados apoiaram o ataque estadunidense, assim como os políticos de seu partido (Republicano). Todavia, seus adversários do Partido Democrata, assim como Rússia e China, condenaram. Nancy Pelosi, presidente da Câmara dos Deputados dos EUA criticou duramente o ataque e lembrou da falta de autorização do Congresso para o uso de forças militares contra o Irã. O senador Christopher S. Murphy, democrata de Connecticut, escreveu no Twitter que “os Estado Unidos acabaram de assassinar, sem qualquer autorização do Congresso, a segunda pessoa mais poderosa do Irã”. O senador ainda perguntou se, conscientemente, os Estados Unidos sabem que estão provocando uma guerra regional maciça.
O governo brasileiro, após um período de silêncio, disse mais uma besteira que prejudica o país, afirmando que “manifesta seu apoio à luta contra o flagelo do terrorismo”, dando apoio às ações estadunidenses. Bolsonaro, em entrevista, também considerou os iranianos terroristas. Em conflitos como esse, o mais interessante é buscar uma neutralidade, já que temos uma série de interesses em jogo. Mas o Itamaraty, durante esse governo, não vale nem a pena comentar.
Tudo o que foi escrito até aqui serve para demonstrar que a ação dos Estados Unidos não foi um ato de defesa e, muito menos, tem os objetivos apontados pelo seu governo. Certamente, interesses econômicos estão em jogo, mas, nesse caso, não são os mais importantes. Todo esse conflito, pelo menos a meu ver, encontra-se relacionado com o desejo de Trump em se manter no poder.
Todos sabem que uma guerra sempre fortalece o índice de popularidade dos presidentes estadunidenses e, em função disso, Trump pode estar querendo exatamente isso, com o objetivo de se proteger contra o impeachment no final de seu governo, assim como levar uma grande vantagem na disputa presidencial do final do ano. Outra possibilidade, na mesma linha, seria que Trump está tentando se proteger de uma “bomba” que ainda será divulgada e que possa levar ao seu impeachment, mesmo tendo o Partido Republicano a maioria no Senado. Uma hipótese final, nesse texto, sugere uma exigência de Israel para tentar acabar com a crescente força que o chamado Bloco de Resistência, resistência ou bloqueio à união Israel-Estados Unidos no Oriente Médio, tem. Esse Bloco tem por objetivo bloquear as posições israelenses e dos Estados Unidos no tocante às questões da região, em especial a questão palestina (é importante notar que Solemani comandava a Força Quds, que significa Jerusalém e remete aos palestinos). Trump, por sua vez, sabe que é impossível um presidente ser eleito nos Estados Unidos sem o apoio e o financiamento judeu e, portanto, não atender a um pedido como esse poderia acabar com sua chance de reeleição.
Seja qual for o motivo pontual, pode ser afirmado que o assassinato de Soleimani teve um único objetivo geral: a manutenção de Trump no poder.
Alexandre L Silva