O erro de dividir o governo Bolsonaro em alas

Alexandre L Silva
2 min readJun 17, 2020

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A mídia tradicional, assim como a alternativa, costuma dividir o governo Bolsonaro em alas: ala militar, ala ideológica, ala técnica, ala política, ala econômica e assim por diante. Ultimamente, tenho lido e ouvido muita coisa envolvendo a ala militar e a ala ideológica desse governo, muitas vezes, as notícias apontam para uma oposição entre elas. Entretanto, essa é uma leitura errada do que realmente ocorre.

O governo Bolsonaro é um todo, repleto de aparentes contradições, uma vez que o conflito é uma das bases do discurso da extrema-direita. Jeffrey C. Alexander, professor da Universidade de Yale, deixa isso bem claro ao falar sobre Steve Bannon, o principal teórico da atual extrema-direita pelo mundo e um dos idealizadores da campanha de Bolsonaro: “Bannon adulto foi descrito como alguém que argumenta no grito e para quem “tudo se transforma em luta”. “Ele ama a ideia da guerra” (1). Portanto, a ideia de luta, oposição, conflito, guerra é presença constante no discurso bolsonarista, não vivendo sem ela. Esse conflito precisa estar presente, pelo menos de maneira aparente, dentro do próprio governo. Entretanto, esse conflito interno é aparente, uma vez que todos compartilham a mesma ideologia, os mesmos objetivos e a mesma forma de esconder aquilo que verdadeiramente querem.

Os militares compartilham a mesma ideologia da chamada ala ideológica, não fazendo sentido, assim, criar uma divisão, uma vez que formam uma unidade. O grupo é o mesmo e todos têm os mesmos objetivos antidemocráticos. A única divisão possível é a de papéis, cada qual representando a sua persona. Todos usam máscaras, escondendo quem realmente são e o que desejam. É verdade que essas máscaras são mal feitas, o que permite um observador mediano perceber quem são na realidade. Entretanto, boa parte da população brasileira (a extrema-direita prefere o termo ‘povo’) não chega sequer a ser medíocre, o que permite que tais máscaras cumpram com suas funções.

A ideologia, como demonstra Marx, tem como objetivo garantir a hegemonia de uma determinada classe (burguesia, elite), criando a ideia que os desejos dessa classe correspondem àqueles da sociedade. Portanto, não é necessário que os bolsonaristas acreditem em tudo que eles mesmos divulguem ou digam, basta que esse discurso seja eficiente para iludir e criar uma falsa consciência na coletividade. Há, por exemplo, uma exaltação ao nacionalismo, sendo que qualquer um com algum discernimento percebe que o país se tornou uma colônia dos Estados Unidos.

O que há nesse governo é uma unidade formada por interesses pessoais, egoísmo, entreguismo, obediência aos interesses estadunidenses, aversão à esquerda, autoritarismo, preconceitos diversos, mediocridade, subserviência, desvalorização da vida e da população, além de outras propriedades que estão presentes em todo pensamento fascista.

Alexandre L Silva

(1) https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2238-38752018000301009

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Alexandre L Silva
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Written by Alexandre L Silva

Ex-professor de diversas universidades públicas e particulares. Lecionou na UFF e na UERJ. Articulista de opartisano.org e escritor da New Order no Medium.

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