O coronavírus e o governo brasileiro: capitalismo e prevenção

Alexandre L Silva
4 min readMar 11, 2020
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A COVID-19, a doença do novo coronavírus (Sars-Cov-2, como é oficialmente chamado), tem, no momento, um índice de letalidade de 3,59% (1). Esse índice é bem maior que a da gripe comum, que é de 0,13%, e da H1N1 (gripe suína) que é de 0,2% (2). O índice de infecção da COVID-19 é bastante alto: uma pessoa infectada passa, em média, para outras três (3). Isso significa que o índice de transmissão é muito superior àquele da gripe comum (1,3%), lembrando que todo vírus com um índice de transmissão maior que um para um tende a se espalhar, e o caso do coronavírus não é diferente.

Todo mundo sabe das recomendações para prevenir a COVID-19: lavar bem as mãos desde os punhos e entre os dedos com água e sabão, não levá-las ao rosto e usar álcool gel, quando não for possível lavar as mãos. Acrescento que o álcool líquido também mata o vírus, desde que 70 graus ou acima, como o gel. Também é importante evitar o contato direto com as pessoas, não apertando as mãos e mantendo um raio de 1 metro e 80 centímetros de distância da pessoa infectada (4). Superfícies podem ser desinfetadas usando álcool, água sanitária ou água oxigenada (5).

Lembrando que o novo coronavírus é apenas um de muitos outros vírus do tipo corona. Apesar de não se saber exatamente, ainda, quanto tempo o novo vírus permanece vivo no ambiente, vale lembrar que alguns vírus do tipo corona permanecem vivos por dias em uma superfície (6).

A origem do coronavírus é a cidade chinesa de Wuhan e, pelo que tudo indica, foi espalhado pelo mundo através de viajantes. Por exemplo, os primeiros casos brasileiros são de pessoas que viajaram para Itália e, aí, percebemos a perversidade do capitalismo. Quem faz viagens longas internacionais, em geral, são pessoas que não podem ser classificadas como pobres. As companhias, aéreas ou marítimas, que proporcionam essas viagens estão no topo da pirâmide econômica, apesar das grandes perdas que têm com a doença. Entretanto, quem mais sofrerá, caso o vírus se espalhe, é a população com menor poder aquisitivo. Isso não significa que as pessoas que circulam pelo mundo devam ser responsabilizadas pela doença, mas que o sistema é perverso, pois todos, a princípio, deveriam poder viajar e, ao mesmo tempo, ter condições de prevenção e tratamento.

Devemos, todos, evitar aglomerações para evitar o coronavírus, mas pessoas com menor poder aquisitivo não têm opção de deixar de pegar um ônibus lotado para ir trabalhar, muito menos faltar o trabalho com a desculpa de uma gripe. Além do mais, duvido que empresas de ônibus higienizem cada ônibus que chegue no ponto final e disponibilizem álcool gel em seus transportes, uma vez que isso reduziria o lucro.

O álcool gel é uma alternativa para quem passa boa parte do tempo no transporte público ou em contato com outras pessoas, entretanto, seu preço é elevado e um trabalhador, em boa parte dos casos, não possui dinheiro suficiente para incluir esse item dentro de seu apertado orçamento. Esse trabalhador, como já foi dito, passa mais tempo em transporte público e, logo, no trânsito, sofrendo mais estresse e, portanto, levando mais vezes a mão ao rosto.

Em termos de tratamento, a classe mais baixa irá procurar uma unidade pública de saúde, enfrentando uma fila de espera e, caso diagnosticada com a doença, irá para sua casa sem os cuidados necessários ou, se for o caso, ficará internado em uma unidade de saúde pública. Nesse último caso, sabemos a luta do atual governo brasileiro para destruir a saúde pública no Brasil, o que acabará com a esperança de um bom tratamento, caso as coisas continuem seguindo esse mesmo caminho.

É necessário que as autoridades públicas tomem consciência do perigo da COVID-19. Representa um mal para as pessoas, em especial para a camada menos privilegiada da população. Entretanto, deve ser lembrado que o vírus ataca a todos e o prejuízo também está presente na área econômica, o que talvez desperte alguma preocupação por parte desse governo. Não adianta alertar a população para depois por a culpa nela. O governo deve fazer sua parte e cobrar para que a parte privilegiada do capital também faça a sua, caso contrário, o coronavírus continuará avançando no país, provocando prejuízos e ceifando vidas. Um país que viu o retorno do sarampo, da febre amarela e de outras doenças que já não escutávamos falar há um bom tempo, será que esse mesmo país é capaz de conter um vírus novo? Até agora, as providência do Governo Federal são mínimas, esperando que a doença se resolva externamente, não demonstrando nenhuma preocupação com sua população.

Alexandre L Silva

NOTAS:

1) https://www.worldometers.info/coronavirus/ Acessado em 10/03/2020. O número de casos, nesse dia, é de 118.905 e o de mortes 4.270.

2) https://brasil.elpais.com/ciencia/2020-03-03/como-o-coronavirus-se-compara-com-a-gripe-os-numeros-dizem-que-ele-e-pior.html

3) https://www.newsobserver.com/opinion/article241060896.html

4) https://www.livescience.com/how-coronavirus-spreads.html

5) https://www.theguardian.com/world/2020/mar/07/coronavirus-reasons-to-be-reassured

6) https://www.livescience.com/how-coronavirus-spreads.html

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Alexandre L Silva

Ex-professor de diversas universidades públicas e particulares. Lecionou na UFF e na UERJ. Articulista de opartisano.org e escritor da New Order no Medium.