Novo coronavírus: dados oficiais contrastam com a realidade
Os dados oficiais brasileiros sobre casos, internações e mortes em relação à COVID-19 refletem um número bem menor que a realidade, todos sabemos. As subnotificações são admitidas por todos os governos, federal e dos estados, e a falta de testes para a doença é algo de conhecimento público. Mas o cálculo de um número aproximado de casos graves e óbitos não é difícil de calcular.
Já sabemos que o número de óbitos causados pelo novo coronavírus (SARS-CoV-2) e registrados pela ARPEN (Associação Nacional dos Registradores de Pessoas Naturais), associação responsável por representar os cartórios, diverge do número oficial do Estado do Rio de Janeiro, por exemplo (1). O Observatório COVID-19 BR estimou que o Brasil pode ter, pelo menos, o dobro de mortes em relação à divulgação oficial pelo novo coronavírus. Esse mesmo observatório, constituído por renomados pesquisadores do Brasil e do exterior, chegou a afirmar que, dentro de um cenário pessimista, o número de mortes pode ser nove vezes maior que o número oficial (2). Em 11 de abril, o site Tijolaço publicou uma matéria em que afirma que o crescimento das internações por Síndrome Respiratória Aguda Grave (Srag) cresceu 601% nas duas últimas semanas de março de 2020, se comparadas com as duas últimas semanas de março de 2019 (3). Obviamente, esse aumento de casos ficou sem explicação oficial. Para o site, o aumento deve ter sido causado pela COVID-19. Também a Folha de São Paulo traz uma matéria que leva a questionar os números oficiais. Na matéria, a Folha afirma que o número de casos de morte por doença respiratória sem causa identificada aumentou 2.464% (isso mesmo, quase dois mil e quinhentos porcento!) em 2020. Já são 1282 casos contra 50 do ano de 2019 (4).
Após todos esses dados, fica evidente a quantidade enorme de subnotificações existentes no Brasil. Entretanto, para chegarmos a dados mais próximos da realidade, precisaríamos fazer uma comparação dos meses de março e de abril dos anos anteriores com os mesmos meses de 2020, no tocante a internações e óbitos por doenças respiratórias, uma vez que um gigantesco crescimento de internações e mortes não aparecem por acaso. Evidentemente, a melhor forma de conseguir dados precisos seria a testagem de toda população, o que é impossível e indesejável pelo custo. Entretanto, mesmo que isso fosse feito, já teríamos perdido os números daqueles que já se foram.
O Brasil tem como calcular, como aqui demonstrado, o número aproximado real de casos graves do novo coronavírus, assim como o número próximo de óbitos. Não divulgar — ou não calcular — tais números faz, evidentemente, parte de uma estratégia do governo, para o bem ou para o mal. Enquanto isso, o grupo COVID-19 Brasil calcula que o número de casos da doença causada pelo novo coronavírus seja 15 vezes maior que o número oficial (5). Isso significa que o Brasil tem, hoje (20/04/2020) 612.210 casos, contra 40.814 divulgados oficialmente (6), chegando próximo ao número de casos confirmados nos Estados Unidos.
Alexandre L Silva
Notas:
(1) http://www.arpenbrasil.org.br/noticias/9622
(3) https://www.tijolaco.net/blog/estatisticas-do-ms-deixam-sem-explicacao-salto-de-601-nas-internacoes/