Moro, Bolsonaro e o caso Flávio
Enquanto a fantástica fábrica de chocolate e seu dono, Flávio Bolsonaro, estão passando por maus momentos, o ministro da Justiça e Segurança Pública permanece calado. Mas, qual a razão disso?
A imprensa tradicional já estampa que Moro pode perder o comando da Polícia Federal, que Bolsonaro já desconfia que o ex-juiz está fazendo corpo mole, que seu chefe o está pressionando para agir e outra afirmações que não traduzem a verdade, mas que, de alguma forma, tentam proteger Moro de todo esse escândalo. Deve ser lembrado, todavia, que o site The Intercept Brasil publicou, em julho de 2019 (1), uma matéria referente ao material conhecido como “Vaza Jato, em que o procurador Deltan Dallagnol afirma, em um chat secreto, que Sérgio Moro protegeria Flávio para não desagradar Jair Bolsonaro. Além disso, ao aceitar o ministério, Moro já sabia com quem iria trabalhar e, por diversas vezes, tomou para si os projetos nada democráticos de seu superior. É importante lembrar, ainda, a fala de Moro sobre o envolvimento do ministro Onyx Lorenzoni em caixa 2: “Ele já admitiu e pediu desculpas”. Por essas e outras, é impossível separar Sérgio Moro e Bolsonaro, já que ambos rezam, ou oram, pela mesma cartilha, aquela que diz que “amigo não tem defeito, mas inimigo, se não tiver, eu coloco”.
Fica evidente, então, o que está acontecendo: proibiram Bolsonaro de usar Moro, para não queimá-lo, uma vez que Moro é, atualmente, o plano B da extrema-direita para 2022. Assim, caso Bolsonaro acabe se queimando em função de sua política econômica ou através de questões judiciais, a extrema-direita tem na figura fiel de Moro uma saída para continuar com sua política econômica ultra-liberal, que agrada os empresários, banqueiros, mídia tradicional e todo o restante da direita, assim como todo o seu projeto ideológico de poder.
Moro, portanto, representa a continuação da subserviência aos interesses estrangeiros, o prosseguimento de uma economia ultraliberal que faliu boa parte da América Latina, o aumento contínuo da desigualdade que favorece os mais ricos desse país, e a manutenção de uma ideologia preconceituosa e há muito ultrapassada. Portanto, não é interessante para aqueles que colocaram Bolsonaro no poder queimar o ministro da Justiça e Segurança Pública, ainda mais com seus atuais índices de popularidade e com o fortalecimento, apontado em todas as pesquisas, da esquerda.
É uma vergonha que isso aconteça, assim como também é a posição de Moro diante dos eventos que envolvem a família Bolsonaro. Entretanto, mais vergonhoso é não perceber isso e não notar que Moro e Bolsonaro representam a mesma coisa, inclusive, caso a Vaza Jato descreva a realidade, não notar as ilegalidades praticadas no período em que ele foi juiz e que clamam por investigação até agora.
Alexandre L Silva
NOTA:
(1) https://theintercept.com/2019/07/21/deltan-dallagnol-sergio-moro-flavio-bolsonaro-queiroz/