Democracias em risco: o governo Trump aperta o cerco sobre a América Latina e o Brasil
Em julho de 2019, escrevi um texto que não teve muita repercussão em Português (https://medium.com/@alexandresilva_94761/o-grande-golpe-8684c55e8116), mas cuja tradução eletrônica e sem revisão foi publicada, sem eu sequer saber, por um site estadunidense especializado em política e militarismo (https://uspolitics.10ztalk.com/2019/07/29/the-great-coup-alexandre-l-silva/). Nesse texto, apontava o planejamento estadunidense para o golpe em Dilma Rousseff e a eleição de Bolsonaro. Nos últimos dois dias (02/12 e 03/12/2019), duas notícias ajudam a corroborar essa teoria.
A primeira (02/12) diz respeito a Mike Pompeo, secretário de Estado dos Estados Unidos. Pompeo afirmou, na Universidade de Louisville, no Kentucky, que trabalhará com o que ele chama de “governos legítimos” para evitar que os protestos na América Latina não sejam “sequestrados” por Cuba e Venezuela. Em outras palavras, os Estados Unidos poderão “ajudar” a reprimir esses protestos, caso julguem que tais países tenham influência neles. Dito da maneira que Pompeo falou, isso parece uma ameaça aos protestos que tomam a América Latina e uma defesa dos governos de direita da região, pois a qualquer momento els podem acusar Cuba e Venezuela, como fizeram com a questão das “armas de destruição em massa” no Iraque.
Para quem está boquiaberto e duvidando do que escrevo, basta ler o discurso do secretário estadunidense (https://www.state.gov/diplomatic-realism-restraint-and-respect-in-latin-america/) para constatar que ele chega a supor que os protestos podem até “não refletir a vontade democrática do povo”. Além disso, o discurso está cheio de referências elogiosas aos governos de direita e ataques aos governos de esquerda, inclusive uma referência indireta ao Programa Mais Médicos do governo de Dilma Rousseff.
A segunda notícia vem do Brasil, um dia após a primeira. Segundo essa notícia, o conselheiro da Embaixada dos Estados Unidos, Willard Smith, visitou, juntamente com Rebekah Martinez (conselheira para Assuntos Políticos e Econômicos do Consulado Americano em Porto Alegre) e e Aline Vecchia (assistente para Assuntos Políticos e Econômicos do mesmo consulado) o TRF-4 (Tribunal Regional Federal da 4ª Região) e seu presidente, o desembargador Victor Luiz dos Santos Laus. Nunca é demais lembrar que essa corte é o tribunal de segunda instância que julgou as apelações de Lula nos casos do triplex e do sítio de Atibaia, confirmando as condenações e aumentando as penas. Voltando à visita, “o presidente do TRF4 destacou a importância de órgãos como a Embaixada norte-americana se aproximarem da Justiça e dos tribunais, pois isso possibilita uma maior integração e articulação entre as instituições” (https://www.brasil247.com/regionais/sul/conselheiro-da-embaixada-dos-eua-visita-o-trf4-e-diz-que-acompanha-lava-jato-e-stf). Uma afirmação dessas é, no mínimo, questionável, já que viabiliza uma possível interferência externa no Poder Judiciário brasileiro, pelo menos, segunda a minha leitura.
Ambas as notícias, portanto, demonstram um fechamento de cerco dos EUA em relação aos países latino americanos, incluindo o Brasil. É necessário lembrar que Trump está passando por um processo que pode levar a seu impeachment ou, ao menos, enfraquecê-lo para a próxima eleição presidencial em 3 de novembro de 2020. Algo como uma intervenção em países da América Latina ou a prisão de um líder como Lula e um ganho econômico às custas do Brasil e através de Bolsonaro são pontos importantes na campanha presidencial ou para jogar a opinião pública estadunidense para o seu lado. A América Latina é um peão importante no jogo de poder daqueles que estão com Trump e com o Partido Republicano. Como já disse, em outro texto, boa parte do que acontecerá com o Brasil depende das próximas eleições estadunidense e como o próximo presidente se relacionará com nosso país, assim como nossa população reagirá a todo esse controle vindo de fora. Por enquanto, o Brasil continua sendo um gigante adormecido e ninguém sabe, ao certo, quando irá acordar.
Alexandre L Silva