Como muita gente é enganada pela mídia e pelo governo Bolsonaro e não percebe

Alexandre L Silva
3 min readDec 27, 2019

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O Jornal Nacional, veiculado pela TV GLOBO durante o Natal de 2019, apresentou uma matéria sobre a segunda via dos cartões de crédito e de débito. Segundo essa matéria, a cada vez que você deixa de pedir sua segunda via, a natureza agradece, pois esses comprovantes contém bisfenol-a, um composto orgânico sintético prejudicial à saúde humana e ao meio ambiente. Apesar de tudo isso estar correto, o telespectador foi enganado e, na maioria dos casos, não percebeu.

A primeira pergunta que surge é: por que as empresas não fazem o mesmo com a via delas? Afinal, se fizessem o mesmo, a natureza agradeceria duplamente, assim como a saúde de seus trabalhadores. A mídia está dizendo a você, portanto, que as empresas precisam conferir suas contas e você, insignificante consumidor, não.

A segunda questão que aparece é: por que a indústria não elimina esse componente em suas tintas? Certamente é um componente perigoso. A prova disso é que a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) já proibiu, a partir de 2012, a fabricação de mamadeiras que contenham esse composto. Portanto, não seria melhor que as empresas não comprassem essas tintas ou, ainda melhor, que a indústria não as produzissem?

É evidente que o consumidor deve ser consciente, mas não pode ser enganado para ter todo o ônus sobre essa questão. Aliás, a responsabilidade maior, na polêmica abordada, é das indústrias e das empresas, pois o consumidor não pediu nem escolheu o tipo de tinta que é usado nesses comprovantes.

Outro caso interessante envolve os plásticos. As sacolas de plástico, usadas nos mercados, estão sendo banidas. Entretanto, o consumidor tem que carregar suas compras e, para tal, alternativas foram apresentadas. Entre elas, o uso das chamadas ecobags, ou sacolas ecológicas. Essas sacolas são vendidas pelos próprios mercados a um preço bem maior que seu custo de fabricação. Em outras palavras, acabaram virando mais um produto lucrativo dos mercados que, por sinal, vendem sacos plásticos de lixo que antes tinham como concorrentes as sacolas plásticas. Então não devemos fazer nada? Não, temos, como sociedade, que ser conscientes e para tal, apresentarmos uma solução. Para buscar essa solução, basta olhar para o passado e lembrar que há algumas décadas, os mercados utilizavam sacolas de papel, tão resistentes quanto as de plástico e bem menos nocivas ao meio ambiente. Contudo, essa solução não iria favorecer tanto as empresas, uma vez que teriam que continuas pagando, como no caso das sacolas de plástico, pelas sacolas. Em outras palavras, é melhor que coloquem a culpa em você e o faça pagar por aquilo que você não fez.

O governo atual também leva a população ao erro. Quando o chefe do Executivo procura liberar cada vez mais o uso de armas de fogo, dizendo que o cidadão tem o direito de se defender, o que ele está fazendo é jogar a responsabilidade da segurança pública no seu colo, uma vez que o monopólio da violência é do Estado e ele deve ser o responsável pela sua segurança. Todos já temos o direito da legítima defesa, não precisamos de mais armas, ainda mais nas mãos de pessoas não preparadas que podem, até, produzir um efeito contrário ao esperado. O governo deve, portanto, é buscar melhorar a segurança pública, e não jogá-la em cima da população, pois isso acarretaria uma volta ao estado de natureza.

Dessa forma, percebe-se como somos enganados pelos discursos da mídia e do governo. É evidente que devemos fazer nossa parte, consumindo conscientemente e utilizando recursos limpos e em menor quantidade. Não obstante, devemos lembrar que devemos pagar apenas uma parte do preço e cobrar a grande parte daqueles que são os maiores responsáveis: empresários, industriais, governos. Caso façamos nossa parte e esse grandes atores sociais nada façam, o mundo continuará caminhando para o abismo ecológico e social.

Alexandre Lessa da Silva

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Alexandre L Silva
Alexandre L Silva

Written by Alexandre L Silva

Ex-professor de diversas universidades públicas e particulares. Lecionou na UFF e na UERJ. Articulista de opartisano.org e escritor da New Order no Medium.

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