Biden vs Trump: um dos piores debates de todos os tempos
Sempre é importante para os brasileiros saber o que está acontecendo nos Estados Unidos, não apenas do ponto de vista histórico, mas também porque o atual governo brasileiro foi transformado, por seu presidente, em uma espécie de adendo de baixa importância dos Estados Unidos. Dessa forma, a derrota de Trump, caso ocorra, deverá ter grandes consequências para o governo brasileiro, uma vez que perde seu único ponto de apoio internacional e, assim, poderá acabar por se desestruturar, mesmo internamente.
O debate, em si, foi um desastre. Joe Biden poderia ter destruído Trump, utilizando todos os acontecimentos dos últimos dias, e não o fez. Donald Trump também não trouxe nada novo e, simplesmente, atacou Biden cegamente, sempre procurando a confusão e o tumulto como tática mor. Aliás, isso está no manual da extrema direita: sempre atacar, criar confusão, caos, demonstrando que é “o homem forte” e que, portanto, lidera o debate. Entretanto, por sua incompetência, Trump não conseguiu desenvolver bem essa tática, mesmo tendo a seu favor a fraqueza e a falta de pulso do moderador do debate. As perguntas também foram fracas e não contribuíram para uma grande discussão.
Acabo de ouvir, na GloboNews, que a maioria dos telespectadores que assistiram o debate consideraram Biden vitorioso (48% x 41%) e que Biden subiu, numa pesquisa de intenção de voto realizada imediatamente após o debate, três pontos, enquanto Trump desceu também três. Isso já era esperado, uma vez que Biden, apesar de sua fraca exposição dos temas, foi o único que realmente falou alguma coisa, se bem que pouca. Isso acabou por passar uma imagem diferente, no caso de Trump, daquela que ele esperava. Ele esperava passar uma imagem de um homem forte e agressivo, mas a que ficou foi a de uma pessoa desesperada.
Suprema Corte e escolha da juíza Amy Vivian Coney Barrett por Trump, Obamacare (Lei de Proteção e Cuidado ao Paciente criado por Obama), COVID-19, economia e empregos, a questão racial, o clima e a eleição e a votação pelos Correios foram os grandes temas do debate. A acusação de sonegação do Imposto de Renda por Trump e os problemas que envolvem o filho de Biden foram as grandes acusações pessoais. Quanto a elas, nenhum dos dois deu qualquer resposta que possa ser considerada satisfatória.
Sobre a escolha da juíza Brrett, Trump afirmou que ele foi eleito para quatro anos, e não três e que, por isso, poderia escolhê-la, enquanto Biden afirmou que ele deveria esperar, uma que não se sabe o que o povo vai escolher e qual direção quer tomar. Nesse momento houve acusações de ambas as partes e a questão foi desviada para o Obamacare, com Trump dizendo que é um desastre e que le melhorou o plano, apesar de ser tão ruim que pouco se pode fazer. Biden, por outro lado, acusa Trump de tirar os direitos de pessoas com doenças preexistentes e de destruir o plano de saúde e retirar muitos remédios da população. Biden também se defendeu de um ataque de Trump, dizendo que derrotou Bernie Sanders e que, portanto, é com ele que Trump deve se preocupar.
Sobre a COVID-19, Biden chamou a atenção para as 200 mil mortes e mais de 7 milhões de infectados, 20% das mortes sendo nos EUA. Disse, ainda, que Trump sabia de tudo antes e que não fez nada, elogiando o presidente da China, na época, e que não foi ao Congresso pedir ajuda, ficando sentado em seu búnquer ou jogando golfe. Trump rebateu, dizendo que os números não são exatos, que fechou o país e que em algumas semanas a vacina aparecerá. Biden volta à carga, e aponta uma série de mentiras de Trump durante a pandemia. Ainda houve uma discussão sobre a importância das máscaras e a correria de Trump para aprovar a vacina até as eleições.
No que diz respeito à economia, Trump afirmou que construiu a maior economia da história, com negócios batendo recordes e que o problema surgiu com a “praga chinesa”. Ao mesmo tempo, ataca o direcionamento dado por Obama à economia e a posição dos democratas, segundo ele, de que é preciso “fechar tudo”: “eles não querem abrir e estão afetando o povo”. Biden retruca: bilionários como ele se saíram muito bem, ele só foca no mercado, cortes de impostos. Disse, ainda, que Trump será o primeiro presidente na história americana a deixar o governo com um menor número de empregos, o que Trump responde que foi ele que trouxe o futebol de volta; insano. Nesse ponto, há uma troca de acusações entre os candidatos: Biden dizendo que Trump pagou apenas 75o dólares de imposto de renda e Trump acusando o filho de Biden, o chamando de drogado e aproveitador do Estado.
A questão racial também foi debatida. Biden defendendeu a busca pela igualdade, lembrou que Trump disse que havia “gente legal” nos dois lados, que estava do lado de militares durante os protestos pela morte de George Floyd e que, mesmo assim, foi criticado pelo maior general dos EUA e resumiu dizendo que Trump é um desastre para os afro-americanos. Trump rebate, dizendo que Biden aprovou “a lei do crime” e chamou os afro-americanos de predadores e de “coisas piores”. Discutem sobre os protestos, Biden afirma que há uma injustiça sistêmica na educação, na justiça e em como é aplicada a lei: há policiais e agentes decentes, mas tem gente que tem q ser responsabilizada. A violência nunca é apropriada, o protesto pacífico, sim, afirma Biden. Trump discorda, ataca o treinamento de sensibilidade racial, dizendo que é racista e contra o país, apresenta-se como o candidato da “lei e da ordem”, acusa os democratas de atacar a polícia e diz que não há um grupo de agentes da lei e da ordem a favor dos democratas. Ataca também os Antifas. Biden não consegue citar um grupo, desses pedidos por Trump, que fosse a favor dos democratas, mas diz que Trump joga gasolina nos distúrbios e que Antifa não é uma milícia, mas uma ideia. Biden pede que Trump condene os supremacistas brancos e Trump não consegue.
Ao falar sobre o clima, Trump diz que quer ar e água limpos, diz que o Acordo de Paris é um desastre , que as florestas queimam por má gestão e foge, de todas as formas, de responder se acredita nas mudanças climáticas. Biden é acusado, pelo moderador, de ter um plano pesado demais para a economia, dois trilhões de dólares. Biden se defende, dizendo que vai gerar empregos verdes e gastar muito menos com os desastres naturais. Biden também afirma, categoricamente, que vai voltar para o Acordo de Paris, e cita as florestas tropicais do Brasil que estão sendo destruídas por gente sem compromisso. Trump volta a atacar dizendo: a China, a Rússia poluem o mundo e nós que temos que ser os bonzinhos? Vale lembrar, aqui, que Biden sugeriu, fora do debate, reunir vinte bilhões em fundos e dar para o Brasil com o compromisso de cuidar da floresta. Caso o Brasil não cuidasse, sanções econômicas deveriam ser impostas.
O último tópico diz respeito à votação. Trump afirmou que pode haver fraude durante a eleição, principalmente no caso dos votos pelos Correios. Disse, ainda, que os democratas o espionaram e tentaram dar o golpe na eleição anterior, mas não apresentou nenhuma prova. Biden, por outro lado, garantiu que o diretor do FBI afirmou não haverá fraude e que esse tipo de voto sempre existiu nos Estados Unidos. O moderador, então, perguntou se Trump está contando com a Suprema Corte (indicação da juíza) e Trump responde que está contando com ela para vigiar a eleição. Trump, ainda não se compromete com o pedido do moderador, de pedir calma a seus eleitores e aceitar o resultado das eleições, levantando suspeita sobre o que já está acontecendo. Biden, por outro lado, pedi essa calma e diz aceitar o resultado seja ele qual for, garantindo que será um presidente de todos os “americanos”, democratas e republicanos.