A destruição da economia brasileira e das estatais por parte do ódio e da incompetência do governo Bolsonaro: Banco do Brasil, CBTU e Ford

Alexandre L Silva
5 min readJan 13, 2021

A economia brasileira, ao contrário do que afirma o atual ministro da Economia, encontra-se em frangalhos e quem sabe bem disso é a Ford que, por sinal, fechou suas fábricas no país. Junto a essa enorme queda na economia nacional, há um ataque ideológico e potencializado por interesses privados às estatais, como demonstra a chamada “reestruturação” do Banco do Brasil e a surpreendente transferência forçada de cerca de 500 funcionário da CBTU (Companhia Brasileira de Trens Urbanos) do Rio de Janeiro para Brasília. Segundo a imprensa (1), o governo Bolsonaro tem o objetivo, até 2023, de privatizar, no mínimo, 94 estatais, mas várias empresas que não aparecem nas listas de privatizações ainda correm o risco, como no caso do Branco do Brasil, de serem privatizadas. É necessário lembrar, ainda, que não só a privatização é instrumento para destruir uma estatal; há também o sucateamento e a privatização de empresas subsidiárias, como foi o caso da BB Turismo em relação ao Banco do Brasil e da BR Distribuidora, da Petrobras.

O Banco do Brasil é uma empresa que registrou um lucro líquido ajustado de R$ 10,189 bilhões durante os nove primeiros meses de 2020. Esse lucro representa uma queda, obviamente em função da pandemia, de 22,9% em relação ao mesmo período do ano anterior (2). De uma forma ou de outra, o Banco do Brasil, além de prestar serviços essenciais à sociedade, é uma empresa lucrativa, então, por que prejudicar milhares de funcionários e milhões de clientes com uma “reestruturação” como essa vinda do governo Bolsonaro?

O início do desmonte do Banco do Brasil, mesmo durante uma pandemia, “reduz a rede de agências do banco, corta salários, funções gratificadas e prevê a redução de 5 mil postos de trabalho” (3). Esse desmonte ainda prevê “o fechamento de 361 unidades, sendo 112 agências, 7 escritórios e 242 Postos de Atendimento (PA), além da conversão de 243 agências em postos de atendimento e a ‘transformação’ de 145 unidades de negócios em Lojas BB, estes dois últimos, sem gerentes e guichês de caixa” (4). Ao mesmo tempo que prejudica funcionários, clientes e a população em geral que necessita dos serviços do banco, o governo Bolsonaro facilita a vida do agronegócio, criando 14 agências especializadas nesse tipo de negócio (5). A economia prevista do Banco do Brasil, em 2021, com esse desmonte, é de R$ 353 milhões (6), um número ínfimo em relação aos prejuízos provocados por essa ação: funcionários sem comissão, com salários reduzidos e muitos fora do banco, população com o atendimento dificultado, com filas ainda maiores do que são hoje e muitos, sem uma agência ou posto na sua cidade, tendo que percorrer uma longa distância até o Banco do Brasil da cidade mais próxima; um prejuízo para toda sociedade, sem nenhuma explicação econômica plausível. Talvez por isso que, apesar da grande imprensa dizer que não sabe o motivo, o fundo imobiliário BB Progressivo II (BBPO11) tenha despencado 5,11%, a R$ 113, desde o anúncio do desmantelamento (7).

Outro fato que demonstra o desprezo do Governo Federal com o funcionalismo público é a absurda e repentina transferência anunciada dos funcionários da CBTU do Rio de Janeiro para Brasília. O governo Bolsonaro, através do Ministério do Desenvolvimento Regional (MDR) e sem nenhum aviso prévio, deu três dias para os mais de quinhentos funcionário da CBTU que trabalham na Central do Brasil decidirem se vão querer ser transferidos para Brasília ou serem demitidos (8). Isso demonstra a total desconsideração que esse governo tem pelo funcionalismo público: três dias para decidir sua vida, e nada mais.

Inflação em alta, principalmente para os mais pobres, um desemprego descomunal, um combate pífio à pandemia, relações estremecidas com os principais parceiros comerciais, queda do PIB, desconfiança global, tudo isso demonstra o descontrole da economia do país provocado pela incompetência, gerenciamento ideológico e interesses pessoais dentro desse governo. Apesar disso, a grande mídia afirma que a culpa é do “custo Brasil” e, por isso, da carga tributária, enquanto Bolsonaro diz que a Ford deixa o país por falta de subsídios (9). A verdade, no entanto, é que a Ford deixa o país por um conjunto de razões, sendo a mais importante o colapso da economia no governo Bolsonaro e a falta de perspectiva que o mundo tem em relação ao Brasil, durante esse governo. Não há empresa, no mundo, que deixe de ter um negócio lucrativo porque um governo não deu subsídios, não há lógica nisso, uma vez que seus lucros, atuais e futuros, superam essa questão. Quanto à carga tributária (10), o Brasil é a segunda maior carga tributária da América Latina, ficando entre a Argentina (primeira) e o Uruguai (terceira), países em que a Ford não fechou suas fábricas. Registre-se, também, que a média da carga tributária dos países da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) é maior que a do Brasil (11): 34,2 para OCDE e 32,3 para o Brasil, em participação do PIB. Portanto, a carga tributária não pode ser o principal motivo para a Ford deixar o Brasil e acabar com cerca de 80 mil empregos, sendo em torno de 5 mil diretos.

Banco do Brasil, CBTU e Ford foram só os exemplos mais recentes do desgoverno político, econômico e ideológico que temos no Brasil. É hora de recomeçar nossa economia e nosso país, e isso só pode ser feito a partir do momento em que Bolsonaro for afastado.

Alexandre L Silva

Notas:

(1) https://especiais.gazetadopovo.com.br/politica/painel-das-privatizacoes/

(2) https://spbancarios.com.br/11/2020/lucro-do-banco-do-brasil-cresce-52-no-trimestre#:~:text=O%20Banco%20do%20Brasil%20registrou,ao%20segfundo%20trimestre%20do%20ano.

(3) https://www.bancariosrio.org.br/index.php/component/k2/item/5670-plenaria-vai-organizar-a-luta-contra-reestruturacao-do-bb

(4) Ibid.

(5) https://www.cnnbrasil.com.br/business/2021/01/11/bb-aprova-reorganizacao-que-preve-fechar-112-agencias-e-desligamento-de-5-mil

(6) https://www.bancariosrio.org.br/index.php/component/k2/item/5670-plenaria-vai-organizar-a-luta-contra-reestruturacao-do-bb

(7) https://einvestidor.estadao.com.br/investimentos/banco-do-brasil-aprova-plano-reorganizacao-fii-bbpo11-despenca/

(8) https://diariodorio.com/transferencia-da-cbtu-para-brasilia-pega-de-surpresa-de-500-funcionarios/

(9) https://oglobo.globo.com/economia/faltou-ford-dizer-verdade-querem-subsidios-diz-bolsonaro-sobre-saida-da-empresa-do-brasil-1-24834308

(10) http://g1.globo.com/economia/noticia/2014/01/carga-tributaria-brasileira-e-2-maior-da-america-latina-mostra-ocde.html#:~:text=Segundo%20o%20levantamento%2C%20os%20impostos,%C3%A9%20de%2026%2C3%25

Os dados são de 2014, mas em um artigo mais recente percebe-se que a Argentina ainda tem uma carga maior: https://noticias.r7.com/economia/peso-dos-tributos-no-brasil-e-menor-apenas-do-que-na-argentina-diz-cni-29072020

(11) https://www2.senado.leg.br/bdsf/bitstream/handle/id/551026/RAF23_DEZ2018_TopicoEspecial_CargaTributaria.pdf

(12) https://diariodopoder.com.br/diario-motor/quase-80-mil-empregos-serao-afetados-com-fechamentos-das-fabricas-da-ford

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Alexandre L Silva

Ex-professor de diversas universidades públicas e particulares. Lecionou na UFF e na UERJ. Articulista de opartisano.org e escritor da New Order no Medium.